8 de out. de 2011

Um debate no Festival do Rio

O Festival do Rio promoveu hoje, dia 8 de outubro, durante os Seminários do Rio Market - evento paralelo à Mostra de filmes que reúne profissionais do setor e, neste ano, acontece num Armazém desativado do porto do Rio de Janeiro - um painel de discussão sobre "outros gêneros que fazem sucesso no cinema Brasileiro". Participaram da mesa o diretor-roteirista do filme Nosso Lar, Wagner de Assis; o produtor do filme Bruna Surfistinha, Rodrigo Lettieri; e o ator Eriberto Leão, protagonista do longa Assalto ao Banco Central. Como moderador, o decano da crítica especializada, o jornalista Luis Carlos Merten.

O debate serviu para encontrar alguns pontos em comum entre os filmes, embora com histórias e propostas absolutamente diferentes. Um deles é que todos vieram, de certa forma, de histórias consagradas ou conhecidas em outros meios de comunicação, seja a partir de um livro, como no caso de Nosso Lar, ou de fatos reais, com os dois outros. Não são histórias originais. Bruna Surfistinha ainda teve uma biografia lançada que vendeu 250 mil exemplares em poucos meses. Seria essa um busca por uma história "mais garantida" na tela?

"Enfrentamos todos os tipos de preconceito, claro, entre possíveis investidores - que jamais pensaram em associar suas marcas a uma história que falasse de prostituição", lembra Rodrigo, que ainda lembrou como eles bucaram "humanizar" o personagem principal retirando dela os estereótipos que promoviam preconceito.

Wagner de Assis, por sua vez, ressaltou que o longa Nosso Lar "jamais esteve com o jogo ganho" por ser a adaptação de um best seller de Chico Xavier - cuja cinebiografia já havia sido contada no cinema também meses antes. "A gente vive um turbilhão de incertezas e expectativas que é suplantado por outro turbilhão - o das surpresas. Tínhamos pela frente um desafio técnico absurdo, inovador, e uma história cujo tema nunca fora abordado daquela forma no cinema produzido no Brasil. Ainda bem que, no nosso caso, as surpresas foram todas felizes", comentou ele.

Luis Carlos Merten ainda lembrou Jean Luc Godard e sua célebre frase que "um filme é um retrato de sua época". E que, ali, havia "três retratos bem distintos de uma nova cinematografia". Para Eriberto Leão, no entanto, o público continua indo ao cinema mesmo para ver uma boa história e ponto. "Pode ser qualquer ator, pode ter qualquer sucesso prévio fora do cinema, mas, na hora que a luz apaga, o que interessa mesmo é o público embarcar na história", disse o ator, ainda ressaltando que Assalto pode ter uma continuação. "E Nosso Lar também pode seguir os livros da mesma série que o originou", lembrou Wagner.

No final do debate, uma coisa ficou clara - nem só de comédias são feitos os sucessos de público do cinema produzido no Brasil atualmente. Além disso, "cinema brasileiro" deixa cada vez mais de ser um gênero "escondido numa prateleira", como disse Merten, para ser "um filme como outro qualquer, com drama, aventura, biografia, enfim, como cinema feito no mundo todo".

A respeito da possibilidade de existir um novo gênero considerado "espírita", o cineasta Wagner de Assis ressaltou também que é preciso muitas produções que tenham muitas ferramentas dramáticas semelhantes para se consolidar um gênero. "Não sei se precisamos de um gênero que se chame espírita. Acho que isso pode diminuir o interesse das pessoas em geral sobre o tema inclusive. Eu gosto de histórias que envolvam o tema espiritualidade, o espírito, então, porque não contá-las de formas já estabelecidas e cuja comunicação com o público é consolidada?" perguntou ele.

O fato é que, entre dramas espiritualistas, filmes policiais ou de temas marginais, o caminho do sucesso de público foi aberto. Juntos, os filmes renderam mais de 8 milhões de ingressos às bilheterias.